sábado, 16 de agosto de 2008

Devaneios I - Imortalidade

Recentemente estive pensando sobre um assunto interessante. A imortalidade. Imaginei como seria se toda a raça humana fosse imortal, mas não desde o ínicio dos tempos, e sim, recentemente. Este tema foi discutido pela banda italiana de power metal, Vision Divine, em seu álbum “The Perfect Machine”.

Neste álbum, é contada a história da raça humana após a descoberta de um cientista que decifra o código genético de nosso DNA e também o motivo pelo qual leva as nossas células a envelhecerem e eventualmente morrerem. Com isso, ele consegue manipular as células a não pararem de se regenerar nunca, fazendo com que parássemos de envelhecer. Também seria possível criar curas para todas as doenças. No final, o homem se tornaria a “máquina perfeita”, como sugere o título do álbum. Mas isso é só o começo, pois junto com a novidade, surgem os problemas morais de tudo isso.

Para citar uma parte da história crítica para o entendimento deste texto:

“Esta nova condição faz com que o cientista tenha certeza que Deus não passava de uma invenção necessária para o homem durante sua vida mortal, para lhe trazer um sentido a uma existência em que todos procuram por uma resposta para o grande mistério da morte”

Com isso, o cientista conclui que, na verdade, as religiões em geral serviam como uma forma de profecia sobre a imortalidade do ser humano, que ao crer em seus instintos conservadores, um dia chegaria a descobrir o caminho para imortalidade. Assim, o Deus que todos adoravam, de qualquer religião, era na verdade uma projeção do que o homem se tornaria, ao alcançar o seu objetivo, fazendo com que o homem seja Deus e vice-versa.

Uma parte um tanto quanto incoerente, é que a reprodução humana passa a ser desnecessária, já que o motivo pelo qual nos procriamos, é apenas para perpetuar a nossa espécie e fazer com que as novas gerações construam um mundo superior e melhor. Mas ao atingir a imortalidade, o homem finalmente chegou ao topo, não precisando mais de filhos para continuar com o que foi deixado por seus antepassados.

Se formos parar para pensar, isso realmente é verdade e faz muito sentido. Porém, temos nossos “instintos” para reprodução, e muita gente deseja ter um filho(a) um dia. Não acho que mesmo sendo imortal, as pessoas parariam de se reproduzir. Viver apenas de sexo por toda a eternidade, por muito bom que isso possa soar, acaba uma hora perdendo o sentido. Com um filho, as pessoas poderiam se dedicar a isso, a tornar essa pessoa em alguém maior.

Porém, se a raça humana imortal decide não parar de ter filhos, uma hora o mundo acaba não aguentando mais pessoas. Afinal, ninguem mais morre pra dar espaço ao outro. Assim, a corrente de eventos naturais é quebrada.

Se formos longe nesse assunto, podemos imaginar que isso poderia ser cogitado mundialmente, e leis criadas para evitar uma super-população, evitando ou proibindo, as pessoas de terem filhos. Mas como sempre, existirão pessoas que não concordarão com a idéia e obviamente isso gerará uma grande discussão.

Penso ainda que muitos costumes não deixariam de ser praticados. Por exemplo, a pessoa vive para sempre, não pode mais ficar doente, mas mesmo assim, pode optar por usar drogas, fumar cigarros e beber bebidas alcólicas. Com a facilidade da cura para qualquer doença, o que impede as pessoas de viciar mais e mais nessas coisas?

Acho que o ser humano não deve viver para sempre, pois não temos uma cabeça feita pra isso. Ainda existirá a ganância para se ter tudo. Mas para isso, eu imagino que teria que ser feito uma mudança geral nas sociedades.

Primeiramente, o dinheiro não deveria mais existir. Afinal, não precisamos dele para sobreviver. Segundo, sem o dinheiro, não existiria o problema de falta de verba para novas tecnologias, estudos e pesquisas. O ser humano poderia se dedicar a estudar novas maneiras de explorar o espaço, ou criar novos tipos de entretenimento. Muita coisa poderia acontecer, sem o medo de não ter tempo.

Seria realmente um mundo perfeito. Porém, o “X” da questão é: Até quando aguentaríamos viver assim? Uma hora as coisas cansam. Isso é óbvio. E tendo todo o tempo do mundo pra fazer o que quiser, não existirá aquele que falará “não tenho tempo para essas coisas” ou então “eu queria fazer aquilo, mas não tenho tempo”. Você poderia ir a qualquer lugar, trabalhar com o que quiser, se dedicar a vários esportes ou hobbies. Mas isso uma hora se tornaria repetitivo e enjoativo. Poderia demorar para uma hora se cansar de tudo, mas cedo ou tarde, isso acontecerá.

Aí que eu penso que com isso, muita gente se suicidaria. Enlouqueceria.

Com a imortalidade, a vida perderia todo o seu sentido. Nós nascemos com um prazo de validade. Crescemos e aprendemos com o tempo. Nos dedicamos à alguma coisa para podermos sobreviver e curtir nossas vidas. Tudo isso, para que possamos ter uma morte boa. Filhos são essenciais para nossas vidas terem sentido, afinal, o que termina conosco, continua com as próximas gerações.

Vivendo para sempre, não temos mais preocupações “mortais”. A vida teria um novo sentido, porém, a base de quê? Prazer? Viveríamos pra sempre nos esbaldando em passa-tempos e diversão. A vida realmente é para isso?

A imortalidade dá tempo ao homem, mas não muda seu modo de pensar. De que adianta vivermos para sempre, se as pessoas continuam com a mesma mentalidade?